sábado, 16 de outubro de 2010

HISTÓRICO DE ANTONIO DIAS CARDOSO.

Iª Parte

Na memorável batalha do Monte das Tabocas, em que um sonho de Sentimento de Pátria se tornou um sentimento real, através de uma vitória militar, dela estiveram ausentes os grandes restauradores de Pernambuco, Barreto de Menezes, Henrique Dias, Vidal de Negreiros e Filipe Camarão.

Esteve presente somente o líder civil do movimento, Fernandes Vieira, que por não possuir habilitação militar, ficou encarregado de comandar a Reserva, constituída de bravos pernambucanos armados de bordões e de paus tostados utilizados à guisa de chuços.( uma espécie de lança).

No Monte das Tabocas, Dias Cardoso com 900 civis pernambucanos transformados num pequeno exército, e bem conduzidos militarmente, dentro dos Princípios de Guerra, venceu apreciável parcela de um grande exército profissional europeu de 1.500 homens.

Aos holandeses armados com 1.200 modernas armas de fogo e comandados pelo Ten CeI Hendrick Haus, Comandante em Chefe dos holandeses no Brasil, Dias Cardoso se opôs com 250 armas de fogo das mais diferentes espécies, e impôs sua vontade ao inimigo.

Dias Cardoso, segundo depoimento de André Vidal de Negreiros, foi por ele indicado ao Governador Geral do Brasil Antônio Teles da Silva, para ser enviado secretamente a Pernambuco, com a missão de organizar militarmente os pernambucanos num pequeno exército, e, em intima ligação com Fernandes Vieira, o catalisador da reação insurrecional.

E a razão da escolha, segundo Vidal de Negreiros, prendia-se a sua competência militar, coragem invulgar, discrição, e profundo conhecimento de Pernambuco.

Munido de documento que simulava ser um desertor, Dias Cardoso, acompanhado de quatro companheiros, viajou 160 léguas da Bahia a Pernambuco, enfrentando toda a sorte de privações e perigos de vida constantes, ao atravessar regiões dominadas por índios e negros revoltados, e ao atravessar a nado rios caudalosos, para evitar ser pressentido pelo inimigo.

Chegando a Pernambuco, se apresentou a Fernandes Vieira, dando-lhe conta da missão e do dispositivo holandês ao longo do itinerário.

A seguir, escondido pelas matas e engenhos, pelo espaço de seis meses, entregou-se à tarefa de recrutar e treinar militarmente patriotas pernambucanos. Enfim, a dar corpo ao pequeno exército que derrotaria o inimigo do Monte das Tabocas.

Este pequeno exército [pode ser hoje considerado, sem sombra de dúvidas, a "Célula Matar" o Exército Brasileiro, e Dias Cardoso seu organizador e primeiro condutor no caminho da vitória.

Chegando em Pernambuco Dias Cardoso foi elevado à condição de Governador das Arma. Pressentido pelos holandeses, estes moveram lhe intensa caça, obrigando-o, segundo Fernandes Vieira, "a viver escondido nas matas durante sete meses, adestrando sua tropa", até que fosse decidido o levante restaurador, já na certeza do respaldo militar do exército organizado por Dias Cardoso.

No levante decidido em 23 de maio de 1645, através de Compromisso de Honra, firmado por Fernandes Vieira e mais 18 companheiros, constou pela vez primeira a idéia do sentimento de Pátria ou Nacionalidade ,através deste trecho:

"Nós abaixo assinados, nos conjuramos e prometemos em serviço da liberdade, não faltar em nenhum tempo, com toda a ajuda de fazendas (Engenhos) contra qualquer inimigo (incluía até Portugal) na Restauração de nossa Pátria".

IIª Parte


Dias Cardoso na 1a Batalha dos Guararapes



Na primeira batalha dos Guararapes, coube-lhe papel de destaque e decisivo, na qualidade de Sargento- Mór do Terço de Fernandes Vieira, ou o segundo em comando.

A este terço coube a parte principal nesta batalha, por ter conduzido o fulminante ataque frontal principal sobre os holandeses, através do Boqueirão, entre o monte do Oitizeiro e os Alagados.

Deste ataque resultou o rompimento do grosso do dispositivo holandês, seguido de envolvimento de sua ala esquerda sobre os Alagados, onde centenas de holandeses vieram encontrar a morte.

Fernandes Vieira era um líder civil, e embora não exista nada reconhecendo que o plano e direção do ataque no Boqueirão tenha estado a cargo do Sargento- Mór Dias Cardoso, é fácil de se deduzir, pelos brilhantes antecedentes militares deste bravo, que a destruição do Exército Holandês no Boqueirão dos Montes Guararapes, teve o selo de seu valor militar, provado de sobejo no Monte das Tabocas e na Casa Forte.

Neste mesmo ano, foi mandado por Barreto de Menezes até Igaraçu com 200 homens do seu terço, para retirar de plantações abandonadas, mandioca necessária ao Arraial Novo.

Nesta expedição ele armou diversas emboscadas, prendeu 33 holandeses, e queimou três lanchas inimigas que lhe disputavam os mandiocais.

Um mês antes da 2ª Batalha dos Guararapes, este gigante da Restauração foi enviado por Barreto de Menezes à Paraíba, com a missão de distrair o inimigo, e destruir-lhe as plantações e tropas de gado.

Dias Cardoso retornou vitorioso de sua missão, após marchar 25 léguas pelo sertão, abrindo caminhos novos pelas matas, e com um saldo de 11 inimigos mortos, além de copiosa presa de guerra em armamento e suprimentos.


IIIª Parte
Referências Biográficas

Infelizmente, não existem registros acerca da genealogia de Dias Cardoso, até há pouco relegado a um injusto semi-anonimato histórico, não condizente com os tantos e tamanhos serviços por ele prestados à Pátria nascente, quando de nossa proto-história.

Assim, conforme dados de diversos historiadores, sabe-se apenas que ele nasceu no princípio do século XVII, provavelmente no ano de 1600, na cidade do Porto-Portugal, mudando-se ainda jovem para o Brasil, terra a que vai devotar acrisolado amor.

Em 1624, Dias Cardoso assenta praça como soldado, na Bahia, ascendendo, mercê de seus elevadíssimos méritos, a todas as graduações da hierarquia castrense, atingindo, em 1635, o posto de Alferes, tendo participado de importantes ações de guerra contra o invasor, da Bahia a Pernambuco, notabilizando-se por sua ação guerrilheira, máxime pela prática da emboscada, como adiante abordaremos.

Em 1638, após a memorável batalha de Salvador, é promovido a Capitão.

Em 1640, após o cumprimento de relevante missão, conferida pelo Governador-Geral do Brasil, vem a pedir reforma, a qual lhe é concedida; porém, sendo imprescindíveis os seus serviços militares, é convocado para que prosseguisse na luta, na qual se engaja até à rendição dos batavos, fazendo, pois, a campanha, desde a invasão da Bahia, "de fio a pavio".

Em 1655, recebe a honorificência de Cavaleiro da Ordem de Cristo e o comando do Terço de João Fernandes Vieira, do qual fôra Ajudante por ocasião da 1ª batalha dos Guararapes.

Em 1656, é nomeado Mestre-de-Campo, culminando, nesse posto, uma notável carreira militar, de 32 anos de constantes sacrifícios e guerra, iniciada como soldado, em 1624...

Em 1657, Dias Cardoso assume o governo da Paraíba, vindo a falecer no Recife, em 1670, quando ainda no comando do famoso Terço de Fernandes Vieira, consagrado nas duas batalhas dos Guararapes


Algumas considerações finais.


Quem foi Antônio Dias Cardoso ?

Mestre de Campo Antônio Dias Cardoso, posto máximo que conquistou foi um profissional militar, que após destacada participação militar contra o invasor holandês, faleceu no Recife em setembro de 1670.

Este bravo, por longo tempo não ocupou o lugar que de direito e de justiça lhe cabia na História do Brasil, pelo fato de ter sido o arquiteto e o condutor militar da "Célula Mater" do Exército Brasileiro, nas memoráveis batalhas de Monte das Tabocas e Casa Forte.

Estas batalhas, por ele vencidas, abriram a campanha da Restauração e mostraram a Pernambuco, Bahia e Portugal, a viabilidade militar da expulsão dos holandeses, a base de guerrilha ou da Guerra Brasílica sem Interferência direta do último.